“Cantos de acolhimento” é o nome que escolhemos para as “estações de aprendizagem” que organizamos, diariamente, para recebermos as crianças e convidá-las às mais diferentes pesquisas e interações. A proposta dos “cantos” promove a construção de conhecimento e cultura com a participação direta da criança, representa um rito de chegada e inaugura a rotina diária na escola. Para que sejam acolhedores e instigantes, precisam contemplar recursos de aprendizagens potentes, cheios de vida e que favoreçam o protagonismo das crianças em experiências positivas.
Se concebemos as crianças enquanto portadoras de múltiplas linguagens, precisamos atrelar a prática pedagógica a uma escuta ativa das educadoras durante a exploração de atividades com os pequenos nos cantos de acolhimento. Faz-se necessária a “escuta do todo”, ou seja, não apenas daquilo que verbalizam, mas de seus gestos, seus silêncios, dos sentidos e significados que vão constituindo em suas experimentações. É preciso estar junto deles, auxiliar nas reflexões sem adiantar respostas, fortalecer relações interpessoais para parcerias produtivas frente às investigações, colher interesses e acolher diferenças que possam surgir.
Como montar os cantos de acolhimento de modo a favorecer a escuta ativa? Como selecionar o que irá compor cada canto? Com qual periodicidade deve-se mudar as propostas?
As experiências propostas devem surpreender, provocar, revelar cuidado e possibilitar a imersão da criança em contextos enriquecidos, para que ela possa apreender a realidade pela sensibilidade e pela ludicidade. É necessário pensar em espaços que permitam a movimentação das crianças e a descentralização do educador. Pensar em arranjos potentes de aprendizagens implica valorizar as linguagens das infâncias e propiciar interações, autonomia e muitas possibilidades de escolha, de construção e desconstrução, de exploração e de significados reais.
Os cantos de acolhimento, geralmente, são organizados nas salas de referência das turmas, mas podem ser pensados para outros espaços de convivência pela escola. Vale lembrar que o espaço é habitado por aquilo que acreditamos, portanto são verdadeiros campos dos acontecimentos que abrangem materiais, materialidades, pessoas, afetos, individualidades e coletividade.
A periodicidade de uma temática ou material vai depender do quanto fez sentido para a turma ou do quanto poderá contribuir para o alargamento dos temas estudados pelas crianças. Com relação aos materiais, podem ser utilizados diferentes tipos para a montagem dos cantos, muitos deles de baixo custo, mas de ampla potência, como elementos não estruturados, pedaços de tecido, argila, pedaços de madeira, bobinas, carretéis, caixas de papelão, entre outros. Propostas envolvendo luzes, sombras e projeções também são muito bem recebidas pelas crianças e as levam a descobertas e interações fascinantes. Papéis, tintas, pincéis, canetas, barras de grafite, riscadores e suportes amplamente variados são também bem-vindos.
E que propostas promover? Quais os focos de intencionalidade? E a duração?
Essas e outras indagações podem surgir e, na verdade, o conhecimento da turma, enquanto grupo e individualmente, é a chave para a tomada de decisão quanto às escolhas de propostas e materiais. É importante conhecer os centros de interesse do grupo e prever experiências que abarquem os Campos e Experiências explícitos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC): Escuta, fala, pensamento e imaginação; Corpo, gestos e movimento; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações; Traços, sons, cores e formas; O eu, o outro e o nós. Procuramos preparar “cantos” com abordagens diferentes: jogos de construção, grafismo, modelagem, minimundos, brincadeiras simbólicas, pintura, entre outras que dialoguem com os Campos de Experiências.
A duração de cada estação/canto também não deve ser rígida, pois está atrelada diretamente à motivação das crianças. Porém, como estamos falando de cantos de acolhida, apesar da elasticidade, após um tempo confortável para as crianças brincarem e explorarem, partimos para a reorganização do espaço, contando com a colaboração dos pequenos, e damos início às outras atividades do dia.Para finalizar, destacamos que os espaços planejados no cotidiano escolar se transformam à medida que as crianças os ocupam. Assim, todo o afeto e intencionalidade postos no princípio de sua elaboração se consolidam em aprendizagens e acervos de memória de uma infância vivida e respeitada em plenitude.